O Prazer: Uma Orientação Primária – Alexander Lowen

Principio do Prazer

A meta essencial da vida é o prazer e nunca a dor. Esta é uma orientação biológica a nível corporal. O prazer proporciona o bem-estar do organismo, e à própria vida. A dor é vivida como uma ameaça à integridade do organismo, onde nos abrimos e saímos em busca de algo, espontaneamente, cuja natureza é o prazer. Contraímo-nos e fugimos de situações dolorosas e quando a situação contém uma promessa de prazer associada a uma ameaça de dor, sentimos ansiedade.

O conceito de ansiedade não viola nossa colocação anterior, pois a promessa de prazer evoca um impulso para fora do organismo em direção da sua fonte, enquanto a ameaça da dor força o organismo a sufocar este impulso, criando um estado de ansiedade. O trabalho de Pavlov sobre os reflexos condicionados em cães demonstrou claramente como a ansiedade produz uma combinação de uma estimulação dolorosa com outra de prazer, na mesma situação. O experimento de Pavlov era muito simples: primeiramente ele condicionou o cão a responder a uma campainha oferecendo-lhe comida logo depois do ruído. Em pouco tempo, o som da campainha sozinho conseguia fazer com que o cão se excitasse e salivasse, na antecipação do prazer da comida.

Quando este reflexo estava bem-estabelecido. Pavlov alterou a situação ao dar um choque elétrico no cão toda vez que a campainha tocasse. Na mente do cão, o toque da campainha associou- se na promessa de comida e à ameaça da dor. O cão estava num beco sem saída, querendo aproximar-se do alimento e temendo fazê-lo, ficando assim num estado de severa ansiedade.

Este padrão de sentir-se submetido a um dilema formado por sinais contraditórios é a causa da ansiedade latente em todos os distúrbios neuróticos e psicóticos da personalidade. As situações que levam a esse tipo de dilema originam-se na infância, entre pais e filhos. As crianças consideram os pais como fonte de prazer e buscam-nos com amor. Este é o padrão biológico normal na medida em que os pais são a fonte de comida, de contato e de estimulação sensorial de que os filhos necessitam.

Enquanto não se defrontarem com frustrações e sofrerem privações, os bebês terão coração puro, ou seja, terão a sua essência pessoal, Isto, porém, não dura muito em nossa cultura, na qual a privação do contato emocional e as frustrações são elementos comuns, e onde o crescimento é geralmente acompanhado de punições e de ameaças. Infelizmente os pais não são apenas uma fonte de prazer; em pouco tempo passam a estar vinculada na mente da criança, a possibilidade da dor. A ansiedade decorrente é (em minha maneira de ver) o elemento responsável pela inquietude e pela hiperatividade demonstradas por tantas crianças. Cedo ou tarde, as defesas são ativadas para abafar a ansiedade; o problema é que as defesas diminuem também a intensidade da vida e a vitalidade do corpo.

Esta seqüência: busca do prazer – privação, frustração ou punição – ansiedade e, depois, – defesa, é um esquema geral para explicar todos os problemas da personalidade. Quando se trata de entender um caso individual, este paradigma deve ser complementado com o conhecimento das situações específicas que produziram a ansiedade e as defesas criadas para enfrentá-la. Outro fator importante é o tempo, pois quanto mais cedo na vida de uma pessoa, tiver surgido a ansiedade, mais insidiosa será e mais profundamente estruturadas serão suas defesas. A natureza e a intensidade da dor esperada desempenham um fator importante na determinação da posição defensiva.

Quase todas as pessoas desenvolvem defesas em relação à busca do prazer, visto que este está associado à causa de severas ansiedades no passado. A defesa não bloqueia totalmente todos os impulsos de busca do prazer, já que, se o fizesse, provocaria a morte do organismo. Em última instância, a morte é a defesa total contra a ansiedade. Porém, toda defesa é uma limitação da vida, uma morte parcial e permite que certa quantidade de impulsos passe pela barreira, até certo ponto e sob determinada circunstância. Assim, as defesas variam de um indivíduo para outro, apesar de poderem ser agrupadas em vários tipos.

Para a bioenergética, os diversos tipos de defesas são reunidos sob o título de “estruturas de caráter”. Caráter é definido como um padrão fixo de comportamento, como o modo típico de uma pessoa conduzir sua busca pelo prazer. O caráter estrutura-se a nível corporal na forma de tensões musculares em geral inconscientes, e crônicas as quais bloqueiam ou limitam os impulsos em seu trajeto até o objeto ou fonte. O caráter é também uma atitude psíquica que se escora num sistema de negações, de racionalizações e de projeções, voltada ainda para concretização de um ego ideal que confirme seu valor. A identidade funcional do caráter psíquico com a estrutura corporal ou atitude muscular é a chave da compreensão da personalidade, já que nos permite ler o caráter a partir do corpo e explicar uma atitude corporal por meio de seus representantes psíquicos e vice versa.

Trecho do livro “Bioenergética” de Alexander Lowen (CAPÍTULO V)

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