Obedecendo ao Guerreiro Interior

Estes são os sutras alcançados pela sabedoria suprema. São profundos e, às vezes, muito complexos, até mesmo contraditórios, mas representam o supremo florescimento da sabedoria. Quando um Buda torna-se Buda, ou um Cristo torna-se Cristo, esses sutras são revelados. Se você puder compreendê-los, essa compreensão o transformará. Se puder sentir a realidade que neles se oculta, você será uma pessoa totalmente diferente. Portanto, procure compreendê-los profundamente.

 Permanece à parte na batalha que se aproxima e, embora lutes, não sejas tu o guerreiro.

 …Ele é tu próprio, não obstante sejas finito e estejas sujeito ao erro. Ele é eterno e infalível. Ele é a verdade eterna. Quando ele tiver penetrando em ti e tiver se tornado o teu guerreiro, jamais te desertará, e no dia da grande paz tornar-se-á um contigo.

 Permanece à parte na batalha que se aproxima e, embora lutes, não sejas tu o guerreiro. Estamos numa constante luta conosco mesmos. A batalha prossegue noite e dia. A vida toda é um campo de batalha, mas você não chega a lugar algum. Não é nem derrotado totalmente, nem sai completamente vitorioso. A luta continua e a energia vital é desnecessariamente dissipada. Você apenas destrói a si mesmo e à sua existência. Qual é a causa? Por que você nunca sai vitorioso? Por que a luta nunca termina?

Você luta com o sexo, luta com a raiva, luta com a cobiça. Luta com todas as coisas, mas permanece ainda nas garras dessas mesmas coisas contra as quais luta. Quanto mais você luta com o sexo, mais se enreda em suas garras e sente que tem de lutar mais ainda. Trata-se de um círculo vicioso. Você luta mais, e então o sexo torna-se mais atrativo, o sexo torna-se magnético. Inúmeras vezes você se decide a não ficar com raiva, mas cada decisão é um fracasso. E o resultado é sempre o mesmo: no fim, você se sente culpado, inferior, incapaz de fazer qualquer coisa; sente uma derrota interior.

Isso tem acontecido a toda a humanidade. Atualmente, a humanidade é muito triste, não por causa de alguma coisa que tenha acontecido nesta época, mas somente porque anos e anos de luta religiosa, séculos e séculos de contínua contenda religiosa, demonstraram à mente humana que nada pode ser alcançado. A mente humana sente um profundo fracasso. Isso cria tristeza e depressão.
A esperança tornou-se desesperançada. Parece que não há saída alguma. Você pode se esforçar, mas é tudo em vão, é um desperdício; ninguém consegue nada. Isso tem acontecido não porque a mente humana é incapaz de qualquer vitória. Isso tem acontecido porque o fundamento da luta está errado, todo o esforço da luta está errado. Por quê? Porque você está lutando com você mesmo. Como pode vencer?

Se eu criar conflito entre minhas duas mãos, entre a mão esquerda e a direita, posso continuar lutando, mas não haverá nenhuma vitória e nenhuma derrota, porque ambas as mãos me pertencem. O impulso sexual me pertence, e o impulso de transcender o sexo também me pertence; eles são, ambos, minhas mãos. Posso continuar lutando, posso continuar mudando de uma para outra – algumas vezes tomando o partido da mão direita, outras vezes, o partido da mão esquerda – mas nada acontecerá porque estou incluído em ambas. Como pode haver derrota ou vitória? Para haver derrota ou vitória são necessários, pelo menos, dois, mas eu estou só, lutando comigo mesmo. Toda essa luta é uma luta irreal, absurda.

Então, o que fazer? Este sutra lhe dá a chave: Permanece à parte na batalha que se aproxima e, embora lutes, não sejas tu o guerreiro. Permaneça à parte. Seja uma testemunha.

Lembre-se desta palavra: “testemunha”. Essa é uma das palavras na busca da espiritualidade. Se você puder entender essa palavra e praticá-la, não precisará de mais nada. Esta única chave poderá abrir todas as portas do paraíso. É uma chave-mestra. Qualquer fechadura pode ser aberta com ela.

O que significa permanecer à parte? Quando o sexo se manifesta em você, você se identifica com ele. Então, quando você termina o ato sexual, a depressão aparece, porque você esperou muito e nada aconteceu. Almejou tanto, teve tanta expectativa, e nada aconteceu. Tudo não passou de uma fraude. Você se sente traído, enganado. Então surge o arrependimento e você começa a pensar em termos anti-sexo. Começa a pensar em como ser um brahmacharya, em como ser um celibatário. Você pensa em como ser um monge; torna-se contrário ao sexo. Então, identifica-se com essa atitude contrária.

Testemunhar significa permanecer à parte e, quando o sexo se manifestar, observá-lo. Não se identifique com ele. Não diga: “Eu sou o sexo.” Diga: “O desejo sexual manifestou-se em mim. Agora, devo observá-lo.” Não se posicione a favor ou contra ele. Permaneça quieto e calmo – apenas um observador.

Isso não significa reprimi-lo, pois a repressão não permitirá que você o conheça. Não o reprima. A repressão significa que você se identificou com a atitude contrária ao sexo. Lembre-se disto: se você não reprimir, estará identificando com a atitude contrária. Não reprima, não se identifique. Deixe que ele aconteça. Não tema; apenas espere e observe.

Entre no ato sexual mas com atenção, ciente do que está acontecendo e deixando as coisas acontecerem. Não atrapalhe, não reprima nada – deixe que o sexo se manifeste em sua totalidade, mas permaneça à parte, como se estivesse observando uma outra pessoa.

O ato evoluirá até seu pico. Acompanhe-o, mas permaneça sempre à parte. Esteja ciente de tudo o que estiver acontecendo, pormenorizadamente. Esteja alerta; não perca a consciência. Então, a partir do pico, você começará a cair, e a atitude contrária ao sexo aparecerá. Esteja novamente alerta. Não se identifique com essa atitude contrária. Observe o que está acontecendo: a onda atingiu seu pico; agora, a onda está caindo. O sexo é a onda se erguendo. Brahmacharya, a atitude contrária ao sexo, é a onda caindo.

Esteja atento, esteja alerta. Não fique a favor ou contra; não condene; não faça nenhum julgamento. Não seja um juiz; seja apenas uma testemunha. Não diga: “Isso é bom. Aquilo é mau.” Não diga nada. Esteja apenas alerta e observe o que está acontecendo. Seja fiel aos fatos; não dê nenhuma interpretação. Testemunhar significa isso.

Se você conseguir ser uma testemunha do sexo, assim como da atitude anti-sexo, chegará a uma profunda compreensão. Através dessa compreensão, você descobrirá que o sexo e o anti-sexo são dois pólos da mesma onda. Na verdade, eles não são opostos um ao outro. São apenas a ascensão e a queda da mesma onda. Eles são um só; portanto, não há nada para se escolher. Se você escolhe um, escolhe também o outro, pois este faz parte daquele, é a sua parte oculta. Se você escolhe um, escolhe também o outro, pois este não pode ser separado daquele. Eles são um só; portanto, não há escolha possível. Então, o estado de não-escolha acontece a você.

Esse estado de não-escolha é o caminho da vitória. Agora, você não escolhe; não há nada para escolher. E um milagre acontece: quando você não escolhe, os dois pólos desaparecem. O sexo e o brahmacharya, ambos desaparecem e, pela primeira vez, você não está mais em suas garras, pela primeira vez, você não está dominado pelos opostos.

O testemunhar está no começo e o testemunhar está no final. O primeiro passo e o último passo são o mesmo. O testemunhar é o meio e o testemunhar é o fim. Então a luta prossegue, mas você não é o guerreiro. Agora a luta ocorre num nível diferente. Que nível é esse?

A partir de agora, o sexo e o anti-sexo se apresentam a você, simultaneamente. Essa presença simultânea dos opostos constitui a luta. Eles lutam entre si e você continua a ser uma testemunha. Por serem opostos, pólos contrários, eles se destroem mutuamente e desaparecem completamente. Possuem a mesma força e a mesma energia. Eles se excluem e se anulam.

Essa é a luta. Mas você não é o guerreiro; é apenas uma testemunha. Só está olhando de fora: um observador nas montanhas. Lá embaixo, no vale, a luta continuará; mas agora você é apenas um observador no alto da torre. Você apenas olha para baixo e vê que eles estão lutando; os opostos estão lutando. Mas eles se anulam, pois possuem a mesma força.

Lembre-se disto: só uma pessoa altamente sexual pode tornar-se um brahmacharya. O desejo sexual intenso pode ser transformado em brahmacharya. Se você é apenas normal, não pode se tornar um brahmacharya pois, para se tornar um brahmacharya, é preciso muita energia. E as energias opostas são sempre equivalentes; portanto, apenas pessoas profundamente sexuais tornam-se brahmacharyas. Pessoas comuns, de sexo normal, natural, nunca vão para o outro extremo. Não podem. A energia necessária para isso, vem do sexo. As energias opostas são equivalentes.

Você não precisa lutar; não precisa tomar partido deste lado ou daquele. Esse é caminho da derrota. Apenas fique à parte, saia do círculo – seja uma testemunha.

É difícil, porque a mente quer escolher; a mente sempre escolhe. A mente é quem escolhe porque, sem escolha, não haverá nenhuma mente; você abandonará a mente. Por isso é tão difícil não escolher.

Até mesmo o que estou dizendo… A maioria de vocês pode se decidir a seguir o que estou dizendo, mas você se decidirá a agir desse modo por alguma razão. As pessoas me procuram, e quando digo: “Seja uma testemunha” – imediatamente me perguntam: “Se eu me tornar uma testemunha, a sexualidade desaparecerá?” Nesse caso, elas não podem se tornar uma testemunha, pois já escolheram. Elas perguntam: “A sexualidade desaparecerá se eu me tornar uma testemunha?” Elas estão prontas a se tornarem testemunhas, se a sexualidade desaparecer!

Mas elas fizeram uma escolha. Decidiram que a sexualidade é má e que o brahmacharya é bom. Elas me perguntam: “Se eu me tornar uma testemunha, tornar-me-ei um brahmacharya, tornar-me-ei um celibatário?” E assim, perdem totalmente o ponto importante da questão.

Estou dizendo: “Não escolha” – e elas já escolheram. Pretendem fazer uso do testemunho como um instrumento para a sua escolha. Mas você não pode usar o testemunho desse modo.

Um homem me procurou. Era um buscador, um buscador sério. Mas estúpido. Há muitos buscadores estúpidos e sérios. E quando eu digo estúpido quero dizer o seguinte: eles não podem entender o que estão fazendo. O homem estava sofrendo por causa de sexo. Todo mundo está sofrendo por causa de sexo. O sofrimento chegou a tal ponto que você não sofre apenas por causa de sua própria sexualidade; sofre também por causa da sexualidade dos outros. Isso parece loucura. Você sofre por causa de sua própria sexualidade e sofre também por causa da sexualidade dos outros, por causa do que os outros estão fazendo.

Sua própria sexualidade já lhe pode criar miséria suficiente. Por que se preocupar com os outros? Mas essa miséria parece não lhe bastar, e então você acrescenta o que os outros estão fazendo: quem está agindo erradamente e quem está sendo correto. Quem é você para decidir? Quem lhe deu esse direito? Quem é você para se fazer de policial?

O homem que me procurou era um policial. Estava sofrendo por causa do que os outros estavam fazendo. Mas eu lhe disse: “Não se preocupe com os outros. O verdadeiro problema deve estar dentro de você. Você ainda não chegou a um acordo com sua sexualidade: esse é o problema. Por que sofrer por causa dos outros? Por que criar outros problemas? Apenas para fugir de seus próprios problemas? Apenas para estar ocupado? Quem foi que designou você para ser um policial? Por que desperdiçar a sua vida? Você deve estar profundamente obcecado pelo sexo; é por isso que se preocupa com os outros.”

Então ele disse: “Você tocou na verdadeira ferida. Estou com 65 anos e ainda estou sofrendo. Quanto mais envelheço, mais sofro. É como se a sexualidade crescesse com a idade. A energia decresce, mas a sexualidade aumenta. À medida que a morte se aproxima, sinto-me cada vez mais sexual. Toda a minha mente, vinte e quatro horas por dia, está obcecada pelo sexo.”

Eu lhe disse: “Você tem lutado com o sexo continuamente.” Ele é um grande buscador. Esteve na companhia de inúmeros santos, de inúmeros gurus. Eu lhe disse: “Eles o destruíram. Você não conseguiu nada. Tudo o que esteve fazendo estava errado. A partir de agora, não lute mais com o sexo.

O homem ficou apreensivo. Disse: “Tenho lutado com o sexo. E este é o motivo: apesar da luta, sou muito sexual. Agora você diz, ‘Não lute!’ Então enlouquecerei totalmente.”

Eu lhe disse: “Você tentou através da luta. Agora, tente o contrário. Você não conseguiu nada. Então, não lute mais!”

“Então, devo fazer o quê?”, perguntou ele.

Eu lhe disse: “Seja uma testemunha.”

Ele perguntou: “Desse modo, a sexualidade desaparecerá?”

Eu disse: “Se você se torna uma testemunha com uma visão sectária – a favor do brahmacharya, contra o sexo -, não pode se tornar uma testemunha. E se não se pode tornar uma testemunha, a sexualidade não pode desaparecer. Torne-se uma testemunha. A sexualidade desaparecerá, mas lembre-se, o brahmacharya também desaparecerá com ela.” Não há necessidade de brahmacharya quando a sexualidade desaparece. Faz parte do mesmo jogo. Quando a doença desaparece, qual a utilidade do remédio? Você jogará o remédio fora junto com a doença. Assim, eu lhe disse: O brahmacharya também desaparecerá. Mas lembre-se, não escolha.”

Ele disse: “Tentarei.”

Depois de três meses – pedi que ele voltasse depois de três meses – ele voltou e disse: “Mas o sexo não desapareceu ainda.” É isso que eu chamo de estupidez. “O sexo não desapareceu ainda, e venho sendo testemunha há três meses.”

A escolha inconsciente permanece: o sexo precisa desaparecer. Assim, você não pode ser uma testemunha. Testemunhar significa não escolher; é uma consciência sem escolha. Essa é uma das chaves mais fundamentais para todas as doenças da mente humana. Se você puder tornar-se uma testemunha, os opostos lutarão entre si, destruir-se-ão, e ambos morrerão, ambos desaparecerão. Mas se você escolher um em vez de outro, não poderá ser uma testemunha.

 

Procura pelo guerreiro e deixa-o lutar em ti.

 

…Procura-o, senão, no calor e na afobação da luta, poderás não o encontrar; e ele não te reconhecerá a menos que tu o reconheças. Se teu brado chegar aos seus ouvidos, então ele lutará em ti e preencherá teu sombrio vazio interior.

 

Procura pelo guerreiro e deixa-o lutar em ti. Não seja você o guerreiro; não há necessidade. O guerreiro é este fenômeno: a presença em sua consciência de ambos os opostos simultaneamente.

Comumente, apenas um se faz presente. Quando o sexo está presente, você não pensa em brahmacharya. Quando o brahmacharya está presente, você não pensa em sexo. Um está presente e o outro está oculto. Essa é a miséria.

Traga para fora simultaneamente o outro e isso se tornará o guerreiro para você. Traga os dois simultaneamente. Quando você se sentir cheio de raiva, introduza imediatamente o arrependimento. Você sempre se arrepende – mas depois. Quando está com raiva, fica com raiva. Quando a raiva fez sua devastação, então vem o arrependimento e você começa a jurar que nunca mais ficará com raiva. Mas a raiva e o arrependimento nunca se encontram. Permita que os opostos se encontrem. Eles se anularão um ao outro.

Se você continuar a se mover de um oposto a outro, nunca será vitorioso. Você já desperdiçou muitas vidas agindo desse modo, e pode desperdiçar infinitas vidas. Mas este é o segredo: manifeste os opostos simultaneamente; permita que eles se apresentem diante de você ao mesmo tempo. Não siga um deles. Se seguir um deles, o outro estará à sua espera. Quando você se entediar, quando estiver farto de um deles, o outro o  agarrará.

Se os opostos não puderem se encontrar, não poderão anular-se um ao outro. Você não precisa fazer nada. Esse é o milagre, a química interior. Coloque os opostos juntos e apenas os observe. Eles lutarão; deixe-os lutar. Você não precisa se envolver nessa luta; simplesmente permaneça à parte. Eles desaparecerão juntos. Quando eles se apresentam simultaneamente, não subsistem; ambos desaparecem.

Assim, um Mahavir não é um brahmacharya. Sexo e brahmacharya, ambos, desapareceram. Ele é completamente inocente, como uma criança. Um Buda não se tornou um não-raivoso; tanto a raiva como a não-raiva desaparecem. Ele é inocente; tanto uma como outra não existem nele. Um Krishna não é nem um sansari nem um sannyasi; não pertence nem ao mundo nem ao antimundo da renúncia. Ambos desapareceram; ele é inocente.

A perfeição, a integridade da consciência, está na inocência. E quando uso a palavra “inocência” quero dizer a ausência dos opostos. A ausência dos opostos é a pureza. Se você escolheu um deles, não é puro. O outro encontra-se oculto no inconsciente; ambos estão presentes.

Os dois estarão presentes se um se faz presente. O outro não pode estar separado; ele pode estar oculto. E se um não está presente, o outro não pode estar presente. Ambos desaparecem; toda a esfera dos opostos desaparece. Então você é inocente. Essa inocência é libertação, essa inocência é divina, essa inocência é nirvana.

 

Recebe as ordens dele para a batalha e obedece-as.

 

Obedece-o, não como se ele fosse um general, mas como se fosse tu próprio, e suas palavras proferidas fossem a expressão de teus desejos secretos; pois ele é tu próprio, embora infinitamente mais sábio e mais forte do que tu.

 

Descubra a testemunha e então obedeça-a. Primeiro, encontre a testemunha e, depois, obedeça-a, porque encontrar a testemunha significa encontrar seu próprio centro mais profundo.

Vivemos em duas camadas, em dois níveis. Um nível é o da periferia: o mundo da ação. O outro é o do ser interior, o mundo da não-ação: o mundo da existência, não o do agir. Tudo o que fazemos se encontra na periferia e tudo o que somos se encontra no centro. Precisamos nos mover continuamente do centro para a periferia a fim de fazer alguma coisa. Sempre que você está fazendo alguma coisa, encontra-se na periferia. Seja o que for que estiver fazendo, está na periferia. Quando está inativo, sem fazer nada, então você está no centro. O testemunhar é uma não-ação. A meditação é uma não-ação.

Estamos fazendo meditação aqui. Durante trinta minutos você permanece na periferia fazendo alguma coisa: respirando, em catarse, repetindo o mantra hoo. Você está fazendo alguma coisa: permanece na periferia. Quando, de repente, eu digo: “Pare!” – quero dizer: agora permaneça na não-ação, no não-fazer. Quando você pára subitamente, é jogado na periferia para o ser, para o centro mais íntimo, porque quando você não está fazendo nada, você não é necessário na periferia. Você precisa permanecer na periferia apenas enquanto está fazendo alguma coisa. Agora, você é lançado de volta ao seu centro. Esse centro é a sua testemunha.

Quando você conhecer esse centro, quando reconhecer esse centro, quando sentir esse centro – siga as ordens. Você será orientado; terá encontrado o seu mestre. Então, siga tudo aquilo que lhe for dito a partir do centro e não dê ouvidos à periferia. A periferia é cultivada pelos outros, mas o seu centro está intato, virgem; ele pertence ao divino.

A periferia vem da sociedade. Por esse motivo é que dizemos que um sannyasin está além da sociedade. Não contra a sociedade, mas além da sociedade. Agora, ele segure seu próprio centro mais íntimo; não está seguindo ninguém mais. Todas as ordens dadas pelos outros são, agora, sem importância.

Você encontrou seu próprio ser interior e, a partir desse momento, esse ser pode orientá-lo. Esse ser é infinitamente mais forte e mais sábio que tu. O “você” da periferia é fraco; o “você” do centro é infinitamente forte. O “você” da periferia é apenas uma coisa mundana; o “você” do centro é o próprio Deus.

Mas, antes de tudo, encontre a testemunha. Jesus disse: “Buscai primeiro o reino de Deus. Então, tudo o mais se seguirá.” Não se preocupe com outras coisas. Primeiro, descubra o âmago do reino de Deus. Então, não precisará se incomodar com mais nada; tudo o mais se seguirá.

Simplesmente, siga a voz interior. Mas como? Você não sabe o que é a voz interior, não sabe o que é o interior. A sociedade confundiu-o profundamente. Ela diz que a voz dela própria é a sua voz interior. Ela colocou muitas vezes em você, apenas para controlá-lo de dentro.

Trata-se de uma necessidade social. A sociedade controla você de dois modos. Por um lado, através de medidas externas: o policial na rua, o tribunal, o juiz, a lei, o governo. Estas são medidas externas, mas não são suficientes. Você pode enganar a lei, pode manipular o tribunal. E o policial, naturalmente, é apenas um outro ser humano. Assim, essas medidas não são suficientes.

O que é bom para um hindu pode não ser bom para um jaina. Qualquer coisa que você diz ser verdadeira, seu oposto também é verdadeiro em algum lugar; nada é absoluto. Agora que nos tornamos cientes de toda a complexidade da consciência humana, sabemos que essa consciência é apenas um produto social. Existem tantas sociedades a um mesmo tempo, que o policial interior enfraqueceu-se. As sociedades humanas são agora menos moralistas porque o policial interior está quase morto. Você sabe que o que ele diz não significa nada: não se incomode com ele. Observe apenas a lei exterior… e tente encontrar um modo de contorná-la.

O que estou dizendo é que a voz do policial interior não é a sua voz. Descubra a testemunha. Somente então você descobrirá a voz interior.

A voz interior o orientará. Suas instruções serão completamente diferentes daquelas prescritas pela sociedade – completamente diferentes. Mas pela primeira vez você se tornará religioso, e não meramente moral. Você será moral num sentido muito mais profundo. A moralidade não será um dever, não será algo que lhe é imposto. Não será um peso; será espontânea. Você será bom, naturalmente bom. Não se tornará um ladrão – não porque a sociedade diz “Não seja um ladrão”, mas porque você não pode ser. Você não matará porque será impossível fazê-lo. Você amará a vida de tal modo que a violência se tornará impossível. Não se trata de um código moral; trata-se de uma orientação interior.

Você afirma a vida, reverencia a vida. Uma profunda reverência surge em você e, a partir dessa reverência, tudo o mais se segure. É isso que Jesus diz: “Descubra, primeiro, o reino de Deus e, então, tudo se seguirá.” Descubra a voz interior e então tudo se seguirá.

A Nova Alquimia (Osho)

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