Ficar só no plano mental é “falta de educação”

“O chique é simples” Rita Lee

Sempre tive inveja de pessoas “espontâneas”. Por isso, adotei gestos largos, entrei para o teatro e comecei a fazer exercícios físicos. De certa forma, eu confundia ser “espontânea” com ser “extrovertida”.

Minha vida virou de cabeça para baixo. Não sabia que o teatro ia mexer com as minhas emoções e não imaginava que fazer exercícios físicos me faria sentir o corpo vibrar quando alguma coisa mexesse comigo. Eu não sabia que pra ser espontânea seria preciso sair do “mental”. Por algum momento, achei que pudesse atuar. E o pior: achei que não fizesse diferença.

Em 2016, quando eu ainda usava aplicativos de relacionamento, me dei conta do business em que eu tinha me metido. Tinha virado amante profissional e nem estava recebendo pra isso. Não uso mais aplicativos como esse, mas conto melhor o porquê nesse texto aqui. O que poderia ser realmente revolucionário em termos de se conhecer novas pessoas virou um jogo rápido e perverso que serve à estrutura corpo-mente tão mal quanto um fast-food. Além disso, o conforto de não precisar se expor pra abordar alguém (me)tirava o coração — a coragem — da jogada. Podemos colocar o nosso coração onde quisermos, até mesmo num aplicativo , e isso é maravilhoso, isso é Era de Aquário, cheia de possibilidades! — mas para a maioria das pessoas esse jogo é perigoso porque é puramente mental.

O coração tem um campo de atuação 60 vezes maior do que o da mente

Aí você pode me dizer “mas é importante saber das coisas. Eu gosto de me planejar”. A questão é que a ordem dos fatores altera drasticamente o produto, e se você coloca a mente na frente dos bois, certamente sua carruagem não vai andar. Sendo mais clara: a mente está a serviço do homem, e não o homem a serviço da própria mente.

A Física Quântica já provou que a matéria é simplesmente energia condensada e a Psicanálise já há mais de um século demonstrou que nossa mente é mais inconsciente que consciente. O que queremos se torna realidade e quanto mais tentamos esconder uma coisa (um medo, por exemplo) mais o Universo vai colocar provas no nosso Caminho, através de pessoas e situações cujos padrões negativos se repetem até a gente aprender. O único antídoto do medo é a coragem. E a etimologia da coragem, como a maioria de nós já sabe, vem do coração. Sendo assim, o antídoto do medo é o Amor.

Um exemplo: você conhece uma pessoa incrível com quem você gostaria de passar horas vendo filmes. Viajando. Tocando violão. Meditando. Surfando. Sei lá. Enfim. Aí você sai com a pessoa várias vezes pra conversar a fim de analisar o contexto, saber do passado, ver se a pessoa não vai sumir de uma hora pra outra. Ok. No fim de uns 3 ou 4 encontros os dois já estão tão cansados da brincadeira que se afastam e não fazem nada que se aproximaram pra fazer um com o outro. Colocaram a mente na frente do coração. Por que cargas d’água não fizeram logo aquilo que queriam? Vai que funcionava? Ou vai que, desde início, não funcionava (e você nem precisaria ter ouvido aquela história triste sobre o avô…)? Quando o coração conecta, as coisas em volta se ajeitam pra dar espaço ao fluxo. Quando um encontro faz bem, o coração (que está saudável) dá ordem ao corpo pra ajustar todas as coisas, e eliminar a água dos lagos internos que estavam parados pra dar mais lugar ao novo. O novo sempre tem lugar. O coração trabalha com o novo porque trabalha com a coragem. O coração não administra sangue velho: o movimento renova o sangue a cada momento. As coisas feitas sem coragem ou paridas somente no mental não tem a mesma potência e viço daquelas que nascem do coração. Se quiser saber mais sobre a predominância energética do campo cardíaco versus o campo mental, assista esse vídeo clicando aqui.

O desejo ansioso x A vontade do coração

Estamos entrando, segundo o calendário maia, na Idade do Coração dentro da Era de Aquário. Isso significa, além de muitas outras coisas, que estamos nos capacitando pra seguir o nosso coração — ou seja, o nosso Caminho Interior — e mais aptos a reconhecer o que é feito com o coração.

Quando estamos muito distantes da nossa caminhada, julgamos que os desejos que sentimos são desejos vindos do coração. Isso não é verdade. A mente, para nos proteger, cria desejos mais “fáceis” para nos distrair. Felizmente, como a energia do Universo é sábia, na maior parte das vezes esses desejos não são realizados, como quem diz: volta pro teu caminho! Como ainda temos muitas distrações à mão, sofremos muito quando estamos distantes do nosso Caminho e temos medo de procurar o Caminho de volta sozinhos.

A arte do sentir

Tive o privilégio de me reeducar na “arte do sentir” (que ninguém ensinou no colégio). Através do Tantra (escrevi sobre uma das massagens aqui), aprendi a mergulhar nos olhos do Outro. Através do Reiki e da Bioenergética, deixei meu corpo se reenergizar e voltar a vibrar. Através do Renascimento, aprendi que respirar faz o meu corpo voltar a sentir e, deixando o velho de lado, poder renascer. Hoje sou formanda em Psicoterapia Vibracional pela Casa de Lakshmi (você pode entender melhor o que é aqui).

O excesso do campo mental deixou alguns rastros na minha vida, e o melhor deles é a escrita. Escrever me ajuda a entender meus pensamentos e meu mundo interior. Ajudar os outros a escrever coloca mundos inteiros pra fora. Me sinto uma doula da palavra e da vida interior (minha e de outras pessoas). Mas nada disso acontece sem o pulsar verdadeiro do coração. O coração é que indica as estradas; a mente é só uma serva.

Estou no caminho da espontaneidade, mas ele não era glamouroso como o eu imaginava. Às vezes (ainda) dói. Na maior parte do tempo, me sinto nua socialmente (confesso que sou naturista). Nem sempre consigo levantar o escudo do ego a tempo pra me proteger.

Sabe o que é maravilhoso? Meus músculos estão bem mais relaxados e tonificados. Minha mente tagarela bem menos e sinto um prazer enorme em estar com as pessoas. Acontecem coisas bem melhores do que as que eu poderia imaginar com a minha mente. Confio no fluxo de energia universal e não invisto tempo pra que ninguém goste de mim. Sinto um alívio. Ficar no mental, além de ser “falta de educação (emocional)”, é um desperdício enorme de liberdade.

Os frutos que o coração dá

Em 2014, após um término de namoro, crises de síndrome do pânico, anti-depressivos e um curso de meditação Vipassana com 10 dias de silêncio, recebi um diagnóstico de surto psicótico. Embora até hoje eu desconfie da precisão de um diagnóstico feito em menos de quinze minutos, aquilo, sem dúvidas, era uma crise. E a crise é um espaço perfeito para criar uma nova realidade.

Já que meu ex-companheiro não queria me ver nem pintada de Monalisa, decidi escrever um romance. Nesse romance, ele dizia tudo o que pensava, como um balanço da relação. Era uma maneira de me colocar em seu lugar. Escrevi porque não tinha nenhuma alternativa ao meu alcance e estava com atestado psiquiátrico de 30 dias em casa (minha mãe levou esse atestado bem a sério). Escrevi para me provar que aquilo era real para alguém, mesmo que fosse só para mim mesma. Escrevi para me entender melhor.

O romance, a princípio, ficou esquisito e pessoal demais. Ainda assim, mandei o original para um concurso literário. Recebi um e-mail da editora dizendo que tinha se emocionado pela história; era forte e verdadeira (mas é claro que era: tinha sido tecida pelo campo do coração e com a força das minhas tripas). No entanto, ela dizia que o romance pedia ajustes estéticos para ser publicado. Justo. Era hora do show.

Reescrevi aproximadamente 20 vezes. Adicionei novas camadas e demãos aos personagens, que ficavam cada vez mais emancipados de mim e do que um dia eu fui em crise. Arrumei o romance com a ajuda do querido revisor Caio Cardoso Tardelli e de amigos como o Thiago Ponce de Moraes. Aquela era uma ode a um relacionamento que, por sua vez, em seu tempo, também havia sido uma linda obra de arte na minha vida. O lançamento já está no ar e tem até promoção do Dia dos Namorados. Você acessa o evento, no qual há uma descrição maior do romance, aqui.

Assim, 2017, ano de Saturno (você pode saber mais sobre isso com o magnânimo no assunto, Nilton Schutz, nesse vídeo aqui) é o encerramento de um ciclo de 3 anos na minha vida: um ciclo da abertura do meu chakra cardíaco em direção ao Amor e da materialização dos meus dons a serviço do Outro através da escrita.

A semente já sabe no que vai dar: ninguém precisa ficar lembrando ela o tempo todo. A Natureza é perfeita. No entanto, o ser humano tem caminhos mais complexos: ele precisa redescobrir o que veio fazer. Confesso que ainda não descobri se a escrita veio no DNA de fábrica ou se foi uma adaptação da minha mente para sobreviver, rs. Fato é que assim estou nessa encarnação e vou usar esse desenho espiritual a meu favor, como a árvore torta daqui perto de casa, que é a mais bonita que eu conheço.

Escrito por:
Carolina Turboli

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