A pele é a vestimenta da alma

“O homem foi condicionado contra o corpo. […] Todo o esforço no passado foi o de torná-lo tão pouco vivo quanto possível. E o seu corpo é um fenômeno de tamanha beleza! Ele é você. Ele é a sua circunferência e, se você negar a circunferência, você não pode jamais encontrar o centro dela. O centro é o seu ser; ele não é contra o corpo. Ele não pode sobreviver sem o corpo por um único momento; o corpo é o nutrimento dele”. OSHO, From Death to Deathlessnes, # 10

No caminho para encontrar nossa espiritualidade, é bastante comum renegarmos o corpo e apenas valorizarmos o espírito. Contudo, esquecemos que sem nossa parte física, não seria possível nossa alma encarnar nesta vida. Independentemente da crença, precisamos lembrar a importância do nosso corpo, como sendo o templo onde habita nossa essência divina. Esta afirmação não busca defender a visão católica apostólica romana ou a de qualquer outra religião que, muitas vezes, pode se utilizar deste argumento para justificar repressões. Pelo contrário, visa trazer a concepção tântrica sobre o corpo, que nos ensina que tudo é divino e sagrado. Desta forma, o corpo é sacro da maneira que é e pode se manter assim mesmo quando nos abrimos aos prazeres da vida.  

A palavra PRAZER, tem origem no latim “placĕo,es,cŭi ou cĭtus sum, placēre  que significa ‘agradar’ ”, mas infelizmente, com o passar do tempo, adquiriu uma conotação negativa em muitas culturas. O prazer se tornou sinônimo de pecado e o pecado nos afasta do divino.

O ser humano, ao longo da história, foi esquecendo sua origem livre e natural. A organização familiar que se baseia principalmente no patriarcado, assim como a propriedade privada, se tornou uma prática comum em diversas sociedades. O surgimento da propriedade privada e o domínio patriarcal andam lado a lado, tendo em vista que a partir da privatização dos bens, o homem sentiu a necessidade de reconhecer sua prole para manter suas posses, ou seja, não perdê-las para outros. Com isso, o homem restringiu a liberdade sexual da mulher, como forma de controlar sua descendência, e a instituição do casamento tornou-se um contrato no qual a mulher representa a garantia de manutenção da propriedade privada do homem e sua moeda de troca.

Embora em algumas sociedades a monogamia devesse ser cumprida por ambos os cônjuges, relacionamentos extraconjugais por parte do marido eram perfeitamente aceitos, mas os frutos desses relacionamentos não eram reconhecidos. Em outras culturas, a poliginia, no qual um homem pode se casar com mais de uma mulher, também era (e ainda é) vista com naturalidade. Porém, ambos os casos aprisionam a mulher a apenas um homem, pois este é o princípio básico da manutenção da propriedade patriarcal.

Graças às religiões, essa organização familiar ganhou um caráter ainda mais justificável. Por exemplo, para as religiões cristãs, a mulher foi a causadora da miséria da humanidade quando Eva, ao desobedecer a Deus, convenceu Adão a comer o fruto proibido e condenou a humanidade a viver na terra para pagar pelo seu pecado. Ao comer do fruto proibido da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, eles cobriram seus corpos, pois reconheceram, segundo a bíblia, a maldade em se perceberem nus. (vide Gênesis, 3 – Bíblia).

O tantra defende que o corpo é sim um templo sagrado, mas não o coloca em um pedestal para ser intocado e o rodeia de repressões. Essa filosofia nos ensina que a primeira coisa é o corpo. A palavra tantra, significa EXPANSÃO (TAN) e LIBERAÇÃO (TRA) e através das práticas tântricas temos a possibilidade de ampliarmos nossa capacidade de expandir e liberar nossa energia, adquirindo assim, um novo estado de percepção e consciência. Quando expandimos nossa consciência, adquirimos um novo sentir e, para tal, a matéria se faz necessária, pois é através dela que vivenciamos essa dinâmica. Ou seja, a matéria nos ajuda a transcender a própria matéria. Neste prisma podemos entender que nosso aspecto físico, ao invés de aprisionar nossa existência, se torna um receptáculo onde nossa essência tem a oportunidade de evoluir no plano terreno.

Baseado nisso, é possível ver o corpo como sendo a vestimenta da alma e não sua armadura. A vestimenta embeleza, protege de maneira sutil, acalenta e dá um toque de personalidade. A armadura, porém, pesa, aprisiona, limita os movimentos naturais e impede o contato sensorial com o mundo a sua volta. Quando negamos o corpo, estamos nos vestindo com uma armadura que pode até nos dar uma falsa sensação de proteção, mas também nos impede de viver todos os aspectos prazerosos da vida. Com a armadura, não conseguimos sentir o toque suave de um carinho, o aconchego e o calor de um abraço, a conexão do sexo sagrado. Quando reconhecemos o corpo como sendo a vestimenta da alma, contudo, estamos nos despindo de toda repressão e honrando cada detalhe dele sem rotulá-lo como bom ou mal, bonito ou feio.

O tantra desconhece essa e qualquer outra dualidade. Ele nos ensina que precisamos reconhecer e aceitar nosso ser e quando nos vestimos com a armadura, nos distanciamos dele. Tudo aquilo que criticamos, condenamos e rejeitamos em nós mesmos, acaba se escondendo no recanto mais fundo de nosso ser a ponto de não conseguirmos mais reconhecer quem somos, pois nos perdemos do nosso eu verdadeiro.

Se você já se sentiu perdid@, sem saber do que realmente gosta, quem realmente é e o que realmente deseja para sua vida, o tantra é um caminho incrível de volta para sua morada. Ele nos ensina que devemos viver as situações e os sentimentos em sua totalidade. Viver e sentir o presente é viver tantricamente!

Se essas palavras tocarem seu peito de alguma forma, quem sabe o seu ser mais íntimo não está aí desejando desesperadamente falar com você e dizer “É ISSO! É esse o caminho que anseio por seguir!”.

Aproveite para conhecer um dos nossos trabalhos que é um verdadeiro mergulho no seu oceano interior: https://www.casadelakshmi.com/programa-tantra-clinico-10/

Você deseja saber o que é (e aprender a) viver tantricamente? Vamos junt@s nessa jornada!

  • Passagem da bíblia:

“Então os seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram tangas para si. (…) Mas o Senhor Deus chamou o homem e perguntou-lhe: “Onde estás?”. E ele respondeu: “Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo, porque estou nu; e ocultei-me”.” Gênesis, 3 – Bíblia

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